quarta-feira, 30 de julho de 2008

A Sombrancelha

Ia de vez em quando em um dos butiquins – apresso a dizer que são vários, de todos tipos e feitios – que costumo ir, um sujeito muito esquisito. Melindroso, sistemático, todo certinho. É daqueles do tipo é ou será, porque já foi nunca ouvi dizer. Nem com muita reza em cima escapa. Não coloco minha mão no fogo de jeito nenhum, aliás fico o mais longe possível. Cada um cuide de seu brioco, pois eu sou muito cioso do meu. Pode vir com qualquer teste da farinha que passo com louvor. Essa era uma das polêmicas mais tolas daquele pé sujo: é ou não é? Eu não tinha dúvida nenhuma e tenho olho clínico pra sintoma de viadagem. De certa vez o rapazinho chegou no buteco todo arrumadinho. Sabe aquela roupa da missa dominical? Pois é, o cara tava melhor ainda.

    - Rapaz, você contratou um personal style?

Hoje é personal pra isso, praquilo, praquiloutro. O que me deixa pasmo, pois não sei se as pessoas decidem algo em suas vidas. Livros de auto-ajuda pipocam, vendem mais que chuchu na feira. Vejo uma pasta amorfa, perdida na indistinção de seres vazios.

    - Você tá me sacaneando?

    - Absolutamente, só adorei seu modelito longo para noite.

    - Gostou, foi? Querendo usar é só falar.

Sei não... essa fanta é uva. Pensei comigo ao deitar um olhar mais aprofundado na figura. Até então estava meio alheio àquele rebuliço inicial da noite de sexta-feira. Andava meio preocupado com um artigo se arrastando e o tempo voando. Acabei não me desligando totalmente do trabalho e o assunto que tomava conta de meus pensamentos não interessava à pauta do bar.

    - Que o que! Tenho um nome a zerar. Imagina, eu aprumado dentro de um troço desse. O que vou dizer lá no Ceará?

    - Deixe de bobagem, o mundo mudou. Hoje em dia as pessoas não ligam.

    - Vai dizer dizer isso lá em casa

O nosso dândi estava uma coisa. Mais esvoaçante que garça no final da tarde. Uma camisa tipo cacharel furta-cor, uma calça boca de sino branca e uma echarpe vermelha. Só faltou o cavalo-de-aço.

    - Isso aí é que é o tal do metrosexual?

Perguntou à meia boca um gaiato. A bicha causou furor no estabelecimento. Aí é que ela se pavoneou de vez. Abriu plumas, paetês e purpurina. Pensei comigo mais uma vez: "Não, isso aí é uma bichona mesmo".

    - Ei, você tá com uma sombrancelha maior que a outra.

    - É mesmo? Ai que horror.

Primeiro foi ao banheiro para se certificar. Depois saiu desabalada gritando quadra afora. Acho que foi retocar a maquiagem.

Nenhum comentário: