quarta-feira, 23 de julho de 2008

A Censura.

Gostaria de tecer alguns comentários sobre este espaço. Tenho cá comigo e meus botões a liberdade de expressão como símbolo maior de minha razão de existir. Ao escrever o autor é livre de toda e qualquer amarra, como já insinuei em poema publicado no meu quarto livro. Da mesma forma que ao bebum lhe é assegurado proferir suas bobagens com todos pingos nos iiiss. Os ditos enfáticos, cheios de verdades são quimeras da verdade e companheiros de copo. A gravidez de ouvido é a mãe da ignorância. E tudo não passa de balela se ao criador lhe é vedado o direito sagrado de sua pena.

Pior que a arrogância de sapientes é a estultícia acomodada. Aquele saberzinho de início do dia, sonolento, confundindo o claro com o escuro, não divisando senão uma nesga de luz. Esse é terrível. Está escorado por pilares perversos, totalitários e cheios de trevas. Se perde no senso comum da realidade deliberada pela midiotização. Desta maneira, a única solução é chafundar na medíocridade cristã e orar pelos censores de plantão. Tive contatos com a Drª Solange e toda estrutura que a cercava. Sim... aquela da Polícia Federal. Ali, no final da Asa Sul, onde se pedia a liberação de publicações, peças, shows etc. Pensei que os anos de chumbo se resumia agora à abertura dos arquivos. Coisa que ansiamos, que é nosso direito e que governo após governo não se concretiza.

A hipocrisia reina. Faça o que eu falo, não faça o que eu faço. Eis aí a máxima dessa turma liberal. Engomadinha em sua vidinha sem perspectiva vai arrotando camarão depois do feijão. Puro, pois a carestia tá braba. Ainda se vangloria de ser exemplo de moral. Como essa horda me enoja. Ao mesmo tempo em que encoraja seu filho adolescente a comer a filha do vizinho, vai descendo a porrada em quem tiver a ousadia de olhar para sua princesinha. "Assim é se lhe parece". Não lembro quem escreveu isso, acho que foi o Millor.

As personagens transitando neste espaço são surreais. Há de tudo: verdades, mentiras, invencionices e fantasias. A parte que se confunde – quero sublinhar o confude, só se confunde – com a realidade é a que diz respeito ao autor. Apenas quando o texto se refere a minha pessoa, o autor, é que há algo que podemos chamar de realidade. Algumas personagens carregam muito do acontecido e bastante exagero da escrita. Outras são fantasia, máscara, representação e não passam de delírios da mente do autor ou/e do narrador. O narrador é invencionice pura. Vou procurar estabelecer limites bem definidos entre o narrador, o autor e as personagens. Com o tempo cada voz dessa polifonia vai acabar assumindo sua linha melódica e meu único leitor deitado na rede não irá se confundir.

Feitos os esclarecimentos creio poder prosseguir em minha jornada de escriba nessa "Lira do Delírio", ou melhor, nesse poupadordeporra. Vamos procurar fazer desse minifúndio um canteiro onde as enxadas sejam apenas para desbravar novas delícias. Termino lembrando de J. D. Salinger em "O Apanhador no Campo de Centeio"quando sua personagem Holden Caufield nos diz: "Bom mesmo é o livro que quando a gente acaba de ler fica querendo ser um grande amigo do autor pra poder telefonar pra ele toda vez que der vontade". E acrescenta: "Mas isso é raro de acontecer".

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