segunda-feira, 21 de julho de 2008

A Boca do Inferno da Televisão.

Abro espaço hoje para falar da grande véia desbocada. Seguindo os passos de Bandeira, guardando as devições proporções, eu imagino a Dercy Gonçalves no céu. Dercy escrachada, sem papas na língua, Dercy sempre provocando. Penso nela entrando no céu:

    - São Pedro, seu puto, vai tomar no cú e abre logo essa porra aí.

Acho que ela é perfeita para ser a madrinha deste blog esculhambado. O que você acha meu único e desocupado leitor deitado na rede? Creio que ela se encaixa feito uma luva. Como não poderia deixar de ser, em se tratando dela, houve barraco em seu ato final. Um professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro aprontou a maior confa no velório da dinda. Vociferando, parecia chamar para si as forças abissais da defunta. Sem o baixo calão da mesma. Foi devidamente recolhido aos costumes e agora vai gastar uma grana com advogado. Voltemos. Ah... sempre as digressões. Agora está lá: caras, bocas, trejeitos e palavrões no céu. As forças celestiais torceriam o nariz? Nada! Com certeza conquistaria todos. A seu modo, é verdade.

Lembro como eu ria, moleque ainda, das bobagens desse ícone do humor mais escrachado possível. Aliás, essa época do politicamente correto é um saco. A gente fica até com medo de contar piada. É a porra da Sociedade Protetora dos animais, das bichas, dos portugueses, das loiras, banindo sumariamente a farta temática da piada pronta e enchendo o saco. Ainda bem que nos resta o congresso. Por falar nessa instituição mor da democracia é preciso esclarecer aos berros que a cidade não é o congresso. Essa estúpida idéia que a imprensa difunde é uma associação infeliz. Cumpre lembrar ao país a origem destes senhores, que aqui aterrisam às terças e se mandam na quinta. E como negar o fato de o congresso ser a cara da nação? A cidade pulsa por trás dos bastidores do poder. Talvez por isso a população Brasiliense tenha uma consciência política um pouco maior que a média nacional. Esta intimidade com o poder acaba criando um tipo de eleitor esclarecido: conhece os meandros mais íntimos da máquina administrativa. Mais uma vez as digressões.

Voltando ao assunto. O caso é que ela se foi. Vai agora esculhambar em outra freguesia. Talvez com uma pláteia menos empolgada, mas fiel. A vertente do humor mais chinfrim perde seu grande expoente. Acho que há uma escola brasileira do humor, bem diferente de Bernard Shaw e distante de Woody Allen. A palhaçada foi sendo construida mais próxima do circo, das feiras, do palavreado chulo da ralé. Para maiores informações sobre a importância do vocabulário no reino cômico consultar o mestre Bakhthin e seu famoso livro "A Cultura Popular na Idade Média". Segundo a filha da humorista, até na hora de ser internada ela armou barraco. Os médicos, em sua infinita paciência, com certeza perdoaram a atriz que não demoraria muito para sair de cena. Parece até sacanagem: não demoraria muito para sair de cena. Como pode fazer sentido isso. Um século e um ano de vida. Lúcida, a boca do inferno da televisão, apontava sua metralhadora para todos os lados.

E a cortina se fecha.

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