Quando publiquei os primeiros textículos nesse espaço virtual, meu cioso leitor e minha sensual leitora acharam simplesmente detestável. Constatou-se ligações literárias indignas com Machado de Assis, Jean Paul Sartre, Xavier de Maistre, Dyonélio Machado e tantos outros. Sua escrita não tinha leveza nem colorido, afirmaram. A estrutura, quando havia, era pobre e mal ajustada. A temática era rebuscada, anacrônica e de um filosofismo duvidoso. Em resumo: acharam execrável. Seguiram-se críticas durante o trajeto. Foi salientado o absurdo, o vago, o emprego indiscriminado do diálogo direto, o sentimentalismo, muito a propósito, diga-se de passagem, em narrativas como essas, pretensamente eruditas, a especulação revela tão somente um narrador ignorante. Concordo em tudo.
Como se sabe, a ostentação de palavras soberbas não passa de um textículo insolente. Eu, o editor, faço como Pilatos e não me envolvo em tais questões. Deixo a contenda para os sábios mais sagazes da cultura, do saber, da filosofia, enfim, os geradores de dúvidas. Já o disse anteriormente: assisto impassível a invenção da incredulidade. Se não me falha a memória, em sua última crônica o poupadordeporra, ao fim de um incrível esforço criativo, especulou sobre o real, dando, inclusive, como título uma citação de Goya. De seus propósitos insensatos restou apenas a impressão de que o narrador está cansado de si próprio.
Sucedeu, porém, que li, em uma das melhores publicações do mundo cibernético, uma crônica em tudo semelhante à do poupadordeporra. Meu primeiro impulso foi vociferar contra crime tão hediondo e denunciar ao mundo o plágio. Forçoso reconhecer, porém, que a máxima publicitária vigora e nada se cria, tudo se copia. Creio que as questões fundamentais da natureza humana já foram formuladas e não passamos de meros papagaios repetindo o velho bordão. Suponho que o que move essa maquinaria, tanto a do narrador como a do autor, é um destino tenebroso, cruel onde a ânsia funesta não é mais que uma frívola esperança. Acredito que ambos ficariam felizes se pudessem riscar da memória tudo que leram, viram ou ouviram, ou seja, o branco total.
Devo reconhecer, nesse ocaso, o louvabilíssimo empenho dos escribas em amortecerem a vaidade da escrita, quiça para nossa própria satisfação. Como último comentário, acrescento minhas desculpas por ser, digamos, um parvo nesses assuntos. Contudo, sem me promover, naturalmente já puxando sardinha para meu lado, assumo meus suspiros desprezíveis, confesso que meu olhos se enchem de prantos ao perceber minhas dores expostas, reconheço que me consumo em um mal que desconheço: o textículo insolente.