sexta-feira, 25 de julho de 2008

Festa no Céu.

O bom de se ter esse diário, que não sei até quando manterei ao mesmo tempo em que tenho a impressão de que não o pararei, é que ele tem me ajudado a tirar a poeira de livros esquecidos na estante. Fazia tempo que não lia crônicas com regularidade. Não que tenha sido uma opção, mas as imposições de um tempo onde o pouco espaço para leitura estava destinado aos textos obrigatórios. Crônicas e poemas? Só os que se encontravam em meu farnel, aquele de crônica anterior. Agora tenho lido compulsivamente. Um retorno no tempo. Houve uma época em que eu só lia crônica. O enstuasiasmo inicial de escrever uma crônica diária foi diminuindo. Acabei percebendo como repito frases, expressões e como a temática é traiçoeira. Um temor antigo se iluminou: o medo de não ter mão leve para essas coisas.

Mas insisto, persisto e vou cavando assunto. Certa vez fomos à feira de troca de Olhos d´água. Vilarejo já bastante conhecido meu, pois ia muito, até de bicicleta já fui. A corrutela fica mais ou menos a oitenta quilômetros de Brasília. Preparativos intensos e planejados. A grana era curta e não poderíamos ficar bebendo cerveja que era coisa de barão. Comprou-se, então, três garrafões do famoso vinho francês sangue debois, cinco garrafas de vodka, daquelas mais baratinhas e uma caixa com doze garrafas de três fazendas. Só para sexta de noite, sábado e domingo de manhã dá. Suposição que se mostrou infundada. A matula etílica só durou até a tarde de sábado. Apenas no trajeto para Alexânia, pouquinho mais que uma hora, foram-se duas garrafas de vodka.

Despensa abastecida, hora de partir. Parte do grupo partiu de baú até a cidade já citada, o resto do caminho – mais ou menos treze quilômetros – seria feito a pé. Encontravam-se neste grupo eu, a R. O Murugas, o Maguim, o mamau e a namorada de R. O maguim já desceu do ônibus pronto. Comprido, uns pés imensos e magro, muito magro. Tava parecendo coqueiro gigante em dia de ventania. Pra lá e pra cá. O estado dele deixou-me apreensivo. Como esse cara vai andar tudo isso? Iniciamos o périplo. E o Maguim ria, corria feito maluco na estrada empoeirada. Ao sairmos da cidade o céu iluminou. Meu irmão e um amigo dele, que tinham vindo de carro, passaram e arrebanharam o Maguim. Alívio geral. Imaginou? Carregar a manguassa alheia... E lá fomos nós: cachaça, pernada e baseado. Quase chegando no arraial, já um escuro danado, o Murugas grita alucinado:

    - Mermão, olha só praquilo... Que luz estranha. Cês viram?

Olhamos e não vimos nada. Ou melhor, cada um viu o que a sua cota de álcool lhe mostrou.

    - Pô Murugas, tá vendo coisas. Essa sua pinga tá estragada. Falou o Mamau

    - Nada mermão, acho que era um alien.

Nisto a R. e sua namorada estavam lá na frente e não viram nada desta cena intergalática. De repente um berro.

    - R. onde você está?

Silêncio total. Só os grilos cantando sua ladainha noturna.

    - Pô mermão, não falei. São os caras. Levaram a R.

    - Deixe e maluquice e vamos ver o que é.

Falei e corri para onde estava a namorada de R., A doida havia entrado no meio do cerrado. Como eu era um sujeito acostumado a acampar, peguei de minha lanterna e lá fui: salvar a R., Tarefa ingrata, pensei. Como vou achar essa neguinha mais negra que andorinha nesse breu de noite sem lua, diacho... Achei a outra viajando. Deitada, os olhos tão arregalados que brilhavam, olhava aquele mundo de estrelas e não tinha a mínima noção do que acontecia em volta dela. Quando viu a luz da lanterna limitou-se a dizer:

    - Apague a luz que os pirilampos estão fazendo uma festa no céu.

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