Minha intenção é narrar um pouco as burlas de nossa cidade, cujos bons hábitos se encontram manchados com nódoas estranhas e práticas vis. Contudo, na verdade, ela, a povoação, tem muito mais valor, já que, por grandeza de espírito e dispondo de estímulos próprios, é nosso horizonte, nosso farol em pleno cerrado, nossa verdadeira imagem.
Em nossa urbe, que, como já insinuei, está repleta de fraudes, não há muitos anos, existiu um nobre senhor, já falecido, dono de sesmarias e de calmarias. Não é minha idéia dizer o seu nome, assim como não indicarei nada que possa revelar identidades de possíveis personagens que por ventura apareçam nessa narrativa. O tal senhor nascera de alta linhagem e não conseguia esconder o desprezo que sentia pelo surgimento da maquete, porque ela era uma invasora em suas sesmarias. Além disso, mais tarde, notando o brotar de uma geração diferente, apesar de toda camisa de força imposta, ele não poderia, de nenhum modo, admitir que novas idéias, com acento, pudessem se imiscuir no discurso fechado em décadas de repetição.
Apaixonado por gado; e de tal maneira exercia seu amor que, se não comprasse um boi por dia, não conseguiria vencer o tédio do dia seguinte. Entretanto, o homem de grande valor não possuia um cabedal condizente com suas necessidades. Sendo ele muito precavido, não se arriscava a ficar sem o cacife suficiente para o lance seguinte, nem sem o lastro de futuros lances. Receava não dispor de recursos que permitissem assegurar sua velhice. Dessa maneira, procurou construir sua fama de caráter impoluto visando fazer daquela terra sua apólice para o devir.
Após refletir sobre o melhor modo de proceder, concluiu pela simpatia, a troca de favores e julgou ser momento propício para agir. O plano estava feito. Seria político.Desse modo, decidiu se aproximar de um bondoso religioso com fama de vida santa. O santo frade percebeu de pronto que o homem tinha uma atitude de bonomia e honradez. Não é novidade para ninguém, que essa união rendeu e rende bons frutos desde priscas eras.
Agora fale o senhor, que eu não tenho mais nada a dizer. Terminando Machadianamente esse textículo.