Conhece a arguta leitora um livro do célebre David Zimmer, romancista estadunidense, intitulado The Silent World of Hector Mann? Machadianamente vou supor que não, pois só assim posso deitar tecla ação; separado mesmo, mas poderia ser junto, ou nega ação, ou, quem sabe, negação, ou outra coisa qualquer; nesse teclado. Eu, se tivesse crédito na praça, como se dizia antigamente, teria feito um filme mudo. Temo errar, mas creio ter o tema e o conhecimento necessários para as formalidades do estilo.
Ainda ontem, lendo no jornal; ainda sujo minhas mãos com tinta; o assassinato de mais uma ex-esposa, pensei nas distinções e interações entre a passionalidade irracional e a deliberada passionalidade. O que separa essa última da primeira, onde a fronteira entre o bandido e o animal? Eu, de minha parte, não tenho posicionamento. Não por indiferença ou desinformação. Veja minha única leitora, a diferença entre um homem excessivo, tomado pela fúria da sensualidade, inconsciente de seu estado e o mísero e ignóbil ser de um reino obscuro, não é a mesma de um Dimitri para um Smerdiakov. Rogarei, todavia, à minha delicada leitora que não se apresse em tirar conclusões.
No momento o interesse é ocupar-me em assuntos que necessitam de olhos sagazes. Não que eu os tenha, mas preciso exercitar a pouca visão. O que não chego a compreender é como a indústria de horrores do espetáculo humano consegue banalizar o banal. Não é novidade para ninguém, que esses crimes se avolumam, sobretudo na capital. Contudo, em São Paulo dá-se o mesmo, porém com um aspecto peculiar: a indiferença. Seria diferente em Salvador? A mesma coisa em Belém? Pensas, então, que, se eu tivesse de explicar-me, defenderia alguma posição? Já o disse: não tenho posicionamento. Em ocasiões anteriores já afirmei que não procuro razões, não clarifico. Está bem, então lá vai uma ou mais palavras.
Penosamente carrego uma pálida imagem de mim mesmo. Ao sentir como o ser humano é capaz das mais baixas vilezas, tomo consciência de minha ingenuidade e me vergo ao destino cruel. Vagarosamente passo em caminhos difusos, voláteis demais para um café, um chá, uma prosa. A rapidez da lebre e a cupidez da ignorância, eis aí a semente do tempo presente. Não se faça de rogada. Pode sair. Afinal, nada mais simples que um toque.