sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O Poupador sai de férias.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Sem Título

É com grande tristeza que venho hoje a esse encontro que era para ser diário, querido blog. Na verdade, mal consigo dominar a melancolia nesse início lírico demais para um final de tarde. Mas o caso é que de manhã eu já havia decidido dotar minha personagem com um olhar vago e distante. Ser personagem é bem mais interessante que ser narrador ou autor, pois não necessito de caminhos firmes, veredas assentadas na lógica. Meu narrador, ou autor, não sei ao certo, define tudo por mim e eu fico esperando placidamente a próxima volta do parafuso. Ciosos de seus menores gestos eles decidem o que é bom ou não; o que pode ser dito e o que não pode, e o resto todo. Minha leitora há de ter paciência; mas, se pensas que o textículo hoje é de quem o assina, engana-se. A redação é de um defunto. Aviso antes para que não me acuse ao final, se é que você me entende, doce leitora.

Assim como Brás Cubas, teço essa renda cá no outro mundo. E, por que não confessar, tenho que me contentar em não ter nenhuma expectiva com relação a possíveis respostas, boas ou más. E isso é apenas o começo, minha sensual leitora. O que desejo, nesse princípio, não se trata de questão filosófica, é estabelecer a porta fechada, é salientar o cubículo enjaulando a fera solitária e ferida, e que talvez nunca mais se recupere dos golpes sofridos. Toda minha existência foi feita de violentas chibatadas. Vi de um lado o calvário, e do outro lado o purgatório. Assim vivia e não achava mal. A prova de que estava bem, é que não me acontecia nada, salvo a perda de mim mesmo. Mas isso é de somenos importância. O mais corria naturalmente, como um rio em direção ao mar.

Hoje peço licença para rasgar a cortina que me cobre e lançar gritos lancinantes, urros iridescentes e descoloridos. Como um lobo quero uivar desbragadamente, largar minha máscara, laçar minha solidão e jogá-la em um sotão sórdido, daqueles que guardam segredos inconfessáveis. Mas sou tão só. Morbidamente ermo e isso é uma doença incurável. Uma chaga carcomendo lentamente toda possibilidade de vida. O que não faz o mínimo sentido, já que não passo de um monte de ossos. Prá que tanta pose doutor? Se no final estaremos todos na horizontal e cobertos de terra, já dizia uma canção não tão antiga assim.

Finalizando, peço desculpa por ostentar esse sorriso cínico e debochado revelando o paroxismo da imbecilidade humana. No meu caso é inútil. Não pertencendo mais à essa turba posso me dar ao luxo, inclusive, de fornecer conselhos valiosos sobre a arte da literatura. Noto bem o desprezo que me devota o autor, da mesma maneira que o narrador me olhando de soslaio deixa divisar sua enorme repugnância. Eles não podem dizer nada! Sempre que os dois faltam tantos dias ao nosso compromisso eu me coloco em cena e não assino a direção. Afinal isso não passa da confissão de uma personagem finada. Fim!


segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A Reforma Ortográfica

Os primeiros indícios de minha sandice surgiram no dia em que resolvi me tornar personagem. Uma confissão de Ralfo que nasce não da primeira morte, mas do enésimo parto. Em comum, já falado aqui tantas vezes, a busca do real na fantasia, pois de certa maneira a verdade não passa de uma quimera, assim como o real é condicionado pelo tangível. O diante de seus olhos nada mais é que a mísera conjectura. Eu sempre quis usar essa palavra. Achei! Mesmo sendo um vocábulo "enjuado".

Adianto o seguinte: a reforma ortográfica que chegou com o ano novo serve apenas para as editoras, não altera absolutamente nada na língua. Até mesmo o sumiço do antipático trema me incomoda. Já não posso mais ficar tranqüilo, terei que ser "trankilo", não obstante minha magreza. O hífem, sempre um grande problema, continua com suas idiossincrasias. E ainda: que fazer com a decantada iguaria Estadunidense? Seria um cachorro ardendo em febre? Contudo, como vou fazer para você cessar o movimento e não estabelecer um destino, um fim, um objetivo. E o fim dos acentos nos ditongos abertos em paroxítonas? Meu vôo perde a leveza da borboleta. Ao lhe arrancarem as asas se torna um "voo" cego, uma "ideia" sem juízo.

Perfeitamente natural que as reformas aconteçam. A língua muda constantemente e é preciso que a acompanhemos. Mas essa reforma é exatamente aquilo que não preciso: chá para paciente terminal, paliativo acadêmico reforçando interesses escusos. Afinal, temos problemas mais sérios na língua que meia dúzia de alterações, creio ser menor que 0,5%, forçando a compra de milhares de dicionários, gramáticas, livros didáticos e afins. Se posso não estou podendo, já que minha mísera conjectura , agora vou abusar da palavra, não respeita o fim. Colocar no limite da trave meu desejo? Pára. Não é para você minha querida leitora. Trata-se de uma pequena embaixadinha, um toque ligeiro na direção do nada, apenas um lance sem gol. Um malabarismo inútil.

Não que eu queira a desilusão, a imutabilidade da língua, mesmo porque seria de uma bobagem indescrítivel. Apenas observo a ganância de uma luta em busca do vazio, um horizonte perscrutando um coração tosco. Pára. Não, meu incrédulo leitor. Não se trata de obstaculizar, "eita palavra bunita", nada. Só, tão somente só, como dizia uma canção antiga, a descolorida sensação do nada. Admito: não sou guerrilheiro de Eldorado, tampouco abraço a cena ou a causa. Apenas isso: uma personagem sem saber se é autor, ou se sou um autor sem saber se é personagem, ou, ainda, se a narração não passa de mera autoria, ou o contrário, ou o que quer que seja. Ou mesmo se sei ao menos escrever... E ainda por cima me aparece mais uma reforma ortográfica inserida naquela velha e gasta frase: mudar para tudo ficar onde está. O limite ansiando por atores medíocres, falas ralas de uma emoção insípida. Eis aí o dilema humano.