Aquele domingo de manhã, quando voltava da pelada, tropecei com um velho Don Juan da época de universidade. Fazia anos que não o via. Conservava ainda um traço juvenil, mas envelhecera muito. Me assustei. Será que eu estava daquele jeito e nem percebia... Se bem que sou mais novo. O conquistador estava careca, barrigudo e com a aparência daqueles homens caseiros. Aqueles que não andam feito tolos, não são frívolos e esse tipo as mulheres adoram. Se ocupa de tudo na casa. Contas, torneiras, reparos, contabilidade. Ou seja, um tipo com os pés no chão, atento aos problemas domésticos e pouco afeito ao bar.
Como poderia? Naquela época o cara traçava altas gatas. Agora ali, pijamão denunciando sua capitulação. Entabulei uma conversa já sabedor do erro primário do cara. Explico: essa história de casa, casamento, filhos, torneiras não é comigo de jeito nenhum. Abomino firmemente essa instituição. Nunca, apesar de ter rompido a barreira da segunda metade de minhas cinco décadas, me casei e não tenho filhos. As mulheres eram apenas uma necessidade física, nada mais. Algumas até tentaram me amarrar. Desvencilhei-me heróica e tenazmente. Minha mãe vive me enchendo o saco por conta disso.
- Quando você vai casar? Você está ficando velho e sozinho. Quem vai cuidar de você?
- Eu contrato uma enfermeira.
Eu admirava o cara, era fã do sujeito. Observava atentamente os procedimentos de abordagem, escutava feito menino curioso as potocas do bacana. Cheguei até usar uma.
- Você poderia me dar um autográfo?
- Como?
- É... um autografo. Fiquei seu fã logo que lhe vi.
- Mas eu não sou artista.
- Você é muito mais que isso. Essas pobres coitadas das revistas não passam de uma pálida imagem da beleza.
Essa eu achei o máximo. De onde o cara tirava tanta criativadade na azaração? O fato é que aprendi muito com ele e, ao que percebo, trocamos de lugar. Aquele rapazinho tímido e muito menino para estar em uma Universidade já não existia há muito. Me tornei ousado e fui tecendo minhas táticas sólidamente. Para minha decepção meu modelo ruiu. Pensando bem, eu sou o parâmetro. Minhas aventuras foram inúmeras, namoradas muito poucas e paixão mesmo apenas uma. Fui, muito antes dessa meninada aí, um ficante nato. Com uma pequena diferença: beijar na boca era apenas um caminho para a cama. A contabilidade ficava restrita ao que se conseguia após. Constumava dizer, sinto muito se é vulgar, machista ou qualquer outra conotação, mas era literalmente assim:"ontem abati três cabritinhas". Dalton Trevisan vetaria?
Me despedi dele pensando em como a vida é engraçada, toma rumos inesperados e contraditórios.
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