terça-feira, 12 de agosto de 2008

Catarina

- Vamos, rápido.

- Faz é tempo que estou esperando vocês.

- Não vai dar galho?

- Claro que não, eu vou sempre. Nunca aconteceu nada.

Caminhavam ansiosos e apreensivos. A noite era escura, não havia um traço de luz no céu, até as estrelas esconderam de vez o sabor da novidade.

- Foguinho, falta muito? estou ficando cansado. Você disse que era perto...

- Porra cabelinho, deixa de ser frouxo, a gente acabou de sair.

- É, não andamos nada ainda.

- Calma, só mais cinco minutos. Que são cinco minutos?

- Já ouvi isso – disse o morcego.

- E se aparecer alguém?

- Não vai aparecer ninguém, é longe da casa.

- E a piãozada?

- Ah cacete, deixa de ser mariquinha. Se quiser é só voltar.

Depois dessa o cabelinho se calou e foguinho continuou conduzido o valente grupo rumo às aventuras. Sua liderança era daquelas conquistada sem alarde, com um ligeiro toque de benevolência e totalmente sem noção do perigo. Criado solto naquele mundão, escaravunchava cada palmo da região. Com o olhar curioso não perdia nenhum gesto que por ventura se mostrasse diante de si. Adorava espiar o que os moços e as moças faziam atrás da igreja. Como daquela vez em qeu viu a filha do prefeito no maior amasso com a filha do farmacêutico. O padre havia dito que era pecado. "É nada, é muita é safadeza, isso sim". Conclui peremptoriamente.

- Muié com muié dá jacaré.

Gritou e saiu correndo, rindo como quem descobre sua balinha em uma travessura. Outra vez, lá na lagoa, viu a Mariquinha peladinha. Arregalou os olhos boquiaberto com o mundo escondido atrás daquelas leves penugens. A partir deste dia operou-se uma mudança significativa em foguinho. Começou a observar os volumes como uma artista plático descobrindo novas possibilidaes. Peitos e bundas passam a povoar sua mente. Daí para os catecismos foi um passo.

- Pô foguinho, essa porra não chega?

- Chegamos. Tá vendo ali, perto do riacho?

- Tô – disse o morcego. Tá tudo quieto.

- Eu não falei.

- E se o véio chegar? – perguntou cabelinho.

- Chega não! Hoje ele só volta tardão da noite.

-Então vamos lá.

- E ela deixa?

- Claro. Até gosta...

Foguinho dá um assovio que só ele sabe fazer e aparece, toda dengosa, a égua Catarina.

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