Já muito falei, ou insinuei, ou citei alguns de meus mestres. Apresso a dizer de sua profusão, de maneira que são de vários feitios, tamanhos e situados em universos díspares. No entanto há três fascinantes. Os relatos de Borges, Kafka e James me são caríssimos, não só por haver uma certa unidade temática, mas pela maestria com que a pena desliza no papel. A angústia labiríntica de profundos conhecedores do ofício me embriaga.
Assim como Borges, procuro situar minha escrita na lonjura do tempo e do espaço onde a imaginação encontra a liberdade necessária. Não me atrevo sequer a aspirar ter a grandeza do ancião ancestral dos pampas. Como já disse em diversos escritos anteriores, não desejo compreender ou persuadir. Contento-me em distrair ou comover. O que me coloca ao menos próximo das Mil e Uma Noites, tão querida para o bardo hermano. Afinal, como diz nosso argentino, a literatura nada mais é que um sonho dirigido.
O leitor curioso e perspicaz perceberá certas incongruências de minhas narrativas. Outro dirá de minha monotonia; decididamente a mesmice é tema principal; um outro notará, ao contrário do portenho, um certo barroquismo, também haverá o leitor esperando o imprevisto, assim como o refratário às novidades nas regras da arte. Na realidade, leitores e atores são vários, há mil possibilidades escapando à observação do cronista mais sutil. Dir-se-ia, minha única leitora, que há aqui algo de inexprimido, de inacabado. Tem-se de novo a impressão de um enigma. Mas não há mistério, talvez a luz se faça. Não antecipemos. Eu poderia, enquanto espero, apresentar algumas considerações sobre minha narrativa.
Eventualmente, ou melhor, constantemente me sinto o agregado José Dias, um amante dos superlativos. Segundo o morador da Rua Mata-cavalos, voz que nos apresenta a personagem, o uso de superlativos só serve para alongar a falta de idéias. Mas é tempo de voltar aos três mestres anteriores e não colocar um outro. A verdade é que só vim a aprender escrever, se é que sei, com a leitura compulsiva de todos eles. Da mesma maneira que o bruxo, na literatura brasileira só há um e não é o retardado da contracultura, busquei nos vermes a minha resposta. Assim como eles não sei absolutamente nada dos textos, nem escolho o que escrevo, nem os amo ou detesto; apenas escrevo e nada mais arranquei das larvas. Ademais, admitir minha ignorância é deixar de ser ator para ser personagem, é o testemunho corrompido pelo narrador.
Relendo essas linhas pressinto, do mesmo modo que o cego portenho, que já não escreverei mais. "Mon siège est fait".
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