Tive como senhorias um trio de senhoras altamente sintonizadas com as coisas do mundo contemporâneo. D. Tertúlia tinha lá seus quase oitenta, D. Maricotinha uns setenta e pouco e a ninfetinha, como se autodenominava D. Emerenciana, algo por volta de sessenta e pouco. Viviam me dizendo: "Meu filho o santo das causas perdidas já não é santo Expedito, é a internet". Enquanto fui hóspede era elas quem arrumavam essa porra toda vez que dava pau. Fui até sacaneado pela ninfentinha. "Essa gurizada hoje em dia é meio burrinha, não dá conta de um defeitinho besta desse".
Me davam notícias de tudo que rolava na rede. A onda do momento são os sites de relacionamento, mais acessados que os de putaria, fui informado por D. Maricotinha. As véias falavam palavrão prá caralho. De certa maneira me tornei confidente dessas aventureiras radicais. Explico e complico: eram gamadas, como se dizia antigamente, por esportes radicais. D. Tertúlia foi a primeira. Muito antes de agora, empacou idéia em descer o Tororó de rapel. Foi o início para todas. Uma fazendo, a outra nem pestanejava em aderir, mesmo ao mais absurdo projeto. Não havia um só desses esportes que as velhinhas não haviam experimentado. As danadas até pularam de pára-quedas.
As representantes da melhor idade, olha eu sendo políticamente correto, minha única leitora há de notar a incongruência, acabaram por simpatizar comigo e passaram a prodigalizar-me com mimos, pedindo opiniões, dando conselhos e brigando comigo por causa do meu desleixo ao vestir-me. Enfim, se tornaram minha segunda mãe por inesquecíveis quatro anos. O tempo de minha permanência naquela cidade borboleta. Elas me foram indicada por meu coordenador. "Tenho certeza absoluta que vocês vão se dar bem". Fato consumado.
Uma vez me levaram a Lençóis, cidade na chapada diamantina, para uma caminhada leve. Quase me mataram. Prá variar fui alvo das chacotas de ninfetinha. "Aposto que esse moleque não aguenta nem dar uma. Na nossa época os homens eram machos, não essa cambada de frouxo". Ria espalhando uma alegria imensa ao mesmo tempo em que exibia, não sem vaidade, os dentes alvos e intactos. Maricotinha, como sempre acontecia nessas ocasiões, saia em minha defesa. "Coitadinho, é aquela porra de-ar condicionado da universidade. Tá precisando de tomar um sol e dar uma trepadinha né, meu filho? Fica só estudando, dá nisso."
Confesso que valeu a pena. Depois de mais de quatro horas caminhando por trilhas precárias chegamos em umas piscinas subterrâneas que me enlouqueceram de puro êxtase. Ainda fiquei sabendo que demoramos por minha causa. Foi nesse dia que as diabas me aplicaram. Na maior naturalidade apertaram um baseado, ou melhor, uma vela. "É bom para relaxar e não há lugar mais apropriado prá fumar unzinho que no meio do mato", falou D. Tertúlia, a mais ajuizada do trio. Devido ao meu estado, embevecido é o mínimo que posso dizer, nem percebi que estava fumando maconha. Depois de ter passado a adolescência sem enconstar em um cigarro sequer, eis-me iniciado nos assuntos do tabaco via diamba.
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