terça-feira, 28 de outubro de 2008

Genro Gringo

O império ruiu. O leão da metro perdeu os dentes e está com adenóides. Não passa de um gatinho manco. Minha cisma agora é outra: seu sucessor será mais perverso ainda. Na história humana os impérios se sucedem em uma lenta agonia. Façam suas apostas. Mas cuidado, a bolsa não anda nada confiável. Por outro lado, assumindo todos os riscos, coloco minhas fichas na China. Poderia até assumir um tom acadêmico e tecer considerações teoricamente fundamentadas sobre o caso. Mas deixemos de lado essas viadagens e vamos navegar na crista de meus preconceitos.

Nunca fui simpatizante do American way of life. Me rendo ao jazz, ao cinema até meados dos anos cincoenta e poucos, pouquíssimos escritores. Ella Fitzgerald cantado Cole Porter me arrepia até a medula, Jonh Ford e sua narrativa cara-pálida faz com que me sinta uma criança encantada e Poe dispensa comentários. Essa antipatia acabou por me colocar em uma saia justíssima. Para minha desilusão tenho uma prima que se alojou na terra do tio sam e por lá casou com um ianque. Essa minha prima eu vi crescer, costumava chamá-la de filhota ou de pequerrucha e a tenho como realmente minha filha. Deixemos de delongas e vamos ao assunto.

O rapaz aportou em terras de pindorama para conhecer a família. Naturalmente fui intimado a comparecer para conhecer meu "genro". Assim que cheguei, antes mesmo de me dar um beijo e abraço para matar minha saudade, pequerrucha me puxou e disse: "olha lá, veja o que você vai falar". Naturalmente em português, respondi com um ar cínico. Ela percebeu e riu. "Não mudou nada, sempre a mesma ironia" e para minha felicidade me cobriu de beijos. Estava com saudades, eu também, enfim, as praxes costumeiras e só nós dois, o que deixou minha tia com cíumes. Só que ela não sabia se era de mim, dela ou dos dois. Gosto muito da minha tia e ela também me adora.

O fato é que ao ser apresentado ao moço não pude deixar de demonstrar um sorriso de canto de boca que toda minha família conhece muito bem. Se prepararam para o pior. A figura, grande, de um branco vermelho, pernas arqueadas e compridas era o símbolo exato do caipira estadunidense. Conversamos amenidades para desanuviar o ambiente que eu percebera procupante. Um alívio aflorou nos lábios de minha mãe e minha tia veio se intrometer em nossa conversa, estava preocupadíssima, segundo me contou mais tarde.

Contudo, mais tarde, quando ele falou sobre a amazônia não pude me conter. Em perfeito inglês, para o seu espanto, pois até então estava falando um inglês sofrível, misturando gestos, frases erradas e tudo que eu tinha direito, fiz ver minha opinião sobre o assunto. Me furtarei a narrar, pois é insignificante. O gringo ficou lívido, engoliu a seco todo meu arrazoado a respeito da empáfia estadunidense. Meu irmão foi o salvador da pátria. Contou uma piada, ele sabia que eu iria rir. Era uma que eu gostava muito. Com o tempo me aproximei de meu "genro gringo", como passei a chamá-lo. Acabamos nos tornando grandes amigos e nutro uma alegria muito grande ao ver o belo casal.

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