segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Servo da Morte.

Como ele tem algum poder sobre vós, senão por vós? Como ousaria

atacar-vos se não fôsseis receptadores do ladrão que vos pilha, cúmplices do assassino que vos mata, e

traidores de vós mesmos?

Etiene de La Boitié.

Discurso da Servidão Voluntária


 

Há várias espécies de coitadinhos. Todas me causam náuseas. No entanto, há um tipo pernicioso: o coitadinho bonzinho. Essa eterna vítima vive em uma servidão voluntária que me causa repugnância. Apenas um capacho em uma porta na qual ninguém entrará. Em sua cegueira há uma luz branca ofuscando todo desejo, há um negrume iluminando as vilanias que o tornam feliz. Com uma auto-estima baixa o pobre diabo só é feliz se alguém o achincalha.

Ao instituir uma só rainha, ou rei, o infortúnio do sujeito reside no fato de se colocar à mercê de uma senhora, ou senhor, a qual nunca será vedada a tirania. Não tento compreender, isso foge de minha alçada, mas gostaria de entender como suportar quem lhe prejudica? Enfeitiçado pelo pensamento único o servo se prosta miseralvelmente diante de seu verdugo e pede perdão. A natureza desse indíviduo é invariavelmente no sentido de diminuir seu bem-estar para aumentar o da amada.

Sua falta de fibra não permitiria jamais que fosse pegar na corda do Círio de Nazaré. Note-se que, geralmente, esse ser é dúbio. Sustentar a força do mar, como os gregos, ou mesmo, a força da corda, como os fiéis nortistas, lhe é sufocante, pois o sisal é sem cio. Geralmente é dotado de uma bondade quase ilimitada, prefere não discutir, pois lhe é simpática a idéia de que o interlocutor sempre tenha razão. Dessa maneira se furta a qualquer polêmica e abraça opiniões discutíveis. A aquiescência é sua quinta essência.

E finalmente, resta dizer uma única coisa, a liberdade lhe é estranha e confusa. Corrompidos pela obstinada vontade de servir são presas fáceis dessa doença mortal: a necessidade de uma gaiola.

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