terça-feira, 23 de setembro de 2008

Vagau

Para Plínio Marcos.

O vagau chegou no muquifo todo jururu, mas nada disse. Entrou mudo e calado permaneceu. A nega, escolada por anos de praia, sacou que a parada era séria. Não tinha jeito, o malandro tava enrustido e nada faria com que falasse. Como o dito era da jogatina, ficou imanginando que o otário mais uma vez se fudeu na roda. A merda é que sempre sobrava prá ela e não raro fazia uma visita ao xadrez para livrar a cara do loque. Perguntar não adiantaria, o jeito era esperar, mas pelo andar da carruagem a treta não era a de costume, parecia haver algo mais no ar e barra pesada.

A mulher ficou cabreira e pelos caminhos esquisitos da cachola cavucou minhocas. Mais tarde, depois do desfecho, soube que a quizila era antiga. Tudo começou quando o Waldemar, um patrício metido a besta, deu com as fuças no rabo da Marinalva. O homem endoideceu, ficou vidrado no bagulho. Sim... bagulhão! A moça era conhecida na área como desmoralizadora do tesão. Uma vez o cabra se safou de uma justamente em função do dragão a tiracolo. Como a grana era curta os dois se meteram em um pedaço cavernoso prá mandar ver. Nas preliminares foram surpreendidos por uma rapaziada do mal. Limpeza geral. O padeiro, esqueci de dizer sua profissão e até creio ser desnecessário, foi logo dizendo:

- Meu gajo, tá certo. Só vou te pedir pra tu não tocares na morena.

- Ô portuga, vai tomar no cú. Não achei meu pau no lixo prá meter nessa mocréia.

Falou o Vagau. O fato é que ninguém tocou na baranga e o luso ficou achando que foi Deus. Como o portuga estava com os quatro pneus arriados era natural sua gratidão ao bom deus. Coisas desse mundão véio sem porteira. Mas deixemos isso de lado e vamos ao entrevero entre o Waldemar e o vagau. Acontece que o sarro tirado com o portuga o deixou puto nas calças. Marola à-toa virou tragédia. Apesar de otário, o portuga, além de ter amigos em uns puteiros escrotos, tinha a valentia dos trouxas. Ficou dias maquinando a presepada. O vagau esbarrou algumas vezes com o padeiro e nada disse, nem o gajo. Mas o olhar de além mar aterrorizou o malandro. Ficou sabendo por um dedo-duro que neguinho tava afim de apagar ele. O que o deixou nas tintas. A nega percebeu. Fazia um tempo que o homem dela tava acanhado. Quando estava assim é porque tava na maior roubada. Ela bem sabia que o vagau estava metido em muitos enguiços e fazia e acontecia no pedaço. Pressentido alguma coisa a nega encostou os caixotes na porta do mocó e foi dormir. Fez o que podia. Mas, não adiantou.

De madruga, uma rapaziada toda cheirada chegou na captura do vagau e, sem fazer a mínima cerimônia invadiram o barraco com os berros na mão. O vagou se encolheu na cama miserável e a nega se colocou diante dele. Reconheceu a curriola. Tudo vagabundo do puteiro da Maria Boa, rapaziada barra pesadíssima e sinal que a sujeira era grande. O portuga veio na frente e deu logo um tapão na orelha da nega que a estatelou no chão.

- Portuga, deixa comigo. Tem uma data que tô nas grimpas com esse filho-da-puta.

Falou o manda-chuva. E, sem mais delongas, deu no gatilho. O melado desceu no rosto do vagau. Foi falar com deus. O portuga, mesmo com o malandro já arrebitado, descarregou bala no corpo. E foi assim que na madrugada do dia vinte e três de dezembro de dois mil e oito abotoaram mais um malandro. É, como diz nosso cronista maldito, mulher de vagau sabe das coisas.


Um comentário:

Anônimo disse...

Plínio Marcos que se cuide...