terça-feira, 2 de setembro de 2008

Cangibrina de Lázaro.

Eu, assim como os demais, sou um bêbado chato, além de depressivo. O que me confere um certo toque de individualidade, não de originalidade. Costumo desfilar um rosário de queixas, lamúrias aos borbotões. Praguejo contra meu patrão, alvo primeiro e maior, renego meu Deus, cuspo em meus privilégios e, finalmente, cago e ando com a sociabilidade. Geralmente me torno enfadonho, com um monodiscurso atroz. Repito à exaustão o mesmo bordão, samba de uma nota só desafinando a canção triste demais. Não é difícil deduzir que isso me causa embaraços, constrangimentos e uma longa fila de desafetos. Até mesmo meu espelho não me suporta. Torce o nariz, maldiz os deuses, ele é politeísta, e não compreende como divindades magnânimas deixaram tal criatura vingar.

As queixas são constantes. Se ao menos eu me embebedasse uma vez por semana, mas não, é todo dia. Lá no buteco tem um cara que diz que só bebe seis meses por ano. Dia sim, dia não. Conta perfeita. Eu não conheço feriado etílico. Bebo, melhor dizendo, tomo um porre em cada dia santo. Cumpre clarificar para nosso autor, desconhecedor dos desígnios divinos, a existência de um santo para cada dia do ano. O que me torna um bebum full time, feliz e torcendo pelo time. Alto lá, bom cidadão. Não pense, incorretamente, diga-se de passagem, que sou um leviano alcoólotra. Não senhor. Só bebo pinga. Cerveja é coisa de viado, pequeno burguês mascarando sua covardia. Não passam de vendilhões do templo. Não que eu não tenha dinheiro, posso encharcar o fígado com a birita que eu bem entender. Dinheiro não é problema e só trabalho para não fincar raízes na sarjeta.

O trampo me segura, mesmo considerando todas escapulidas ao longo do dia. Impõe um limite em minha sofreguidão Báquica. O que é uma grande contradição. Nunca ouvi dizer que Brômio tivesse o mínimo discernimento de fronteiras. Além de tudo tenho uma mania rídicula: fico comendo cutícula e unha o tempo inteiro, já não tenho mais dedos e meus dentes estão com síndrome de abstinência. Penitência de um cristão pregado na cruz pesada de seu destino. Os gregos nada sabem, não passam de adoradores pecaminosos.

Na verdade, não passo de um beberrão e me escondo na nebulosidade mental dos pau d' água. Bem sei que minha ventura, minha redenção não está condicionada à embriaguez. Há um ser maior que vela por mim e se envergonha desse filho decaído, mas sou filho e um pai jamais abandona os seus. Embora eu não sinta nenhum sentimento de culpa, percebo em minhas ações, não muitas ao longo do dia, um certo desdém com o que meu pai professa.

A embriaguez é minha hóstia, a remissão de meus pecados e nela se vê claramente um reflexo descorado de Fiódor Pávlovitch e meu fim será ainda mais trágico. Pelas mãos do pai morrerei, seu filho pródigo que não retornou, seu rebento libertino negando o paraíso patriarcal. Esse, assim como para o pai de Áliocha, não me interessa. Não pode haver mulheres devassas no reino azul. A retidão cansa a vista e nos faz mirar um único ponto. Sangue de cristo tem poder e dele não bebo nem o vinho.

2 comentários:

Bianca Feijó disse...

Como diz meu tio:
"Cada um com seus problemas"

Quem paga suas senão você, os resto pense o que quiser...

B.E.I.J.O.S

poupadordeporra disse...

Graciosa escriba, na verdade eu não bebo um só pingo de qualquer espécie. Mas, sabe como é, a gente precisa cavar assunto e como diz também como diz um tio meu: formiga quando quer voar cria asas. Brigadão e beijos.