Três notícias me chamaram atenção essa semana. A primeira foi a moça estadunidense leiloando sua piriquita virgem pela qual almeja abocanhar a bagatela de hum milhão de doláres, a segunda foi a imensa criatividade de um alemão ao solucionar o problema de sua manguaça, o que não passa de uma mera redundância: simplesmente cedia a mulher para o vizinho que, por sua vez, retribuia o favor na materialização divina de um engradado de cerveja. E, finalmente, a encenação da última peça de Nelson Rodrigues "A Serpente".
Os três eventos se comunicam em uma louca conversa de surdos. Vejamos:
A estudante Natalie Dylan, pseudônimo naturalmente, de vinte e dois anos, nascida em San Diego, Califórnia, afirma candidamente que vive em um mundo capitalista, precisa pagar o mestrado e conta com sua moeda de comercialização, a imaculada perseguida, para que tal sonho se concretize. Interessante que os lances serão dados, sem trocadalhos, por favor, em um bordel em Nevada, onde sua irmã também abocanha, literalmente, a grana acadêmica. Trata-se efetivamente de uma das sete gatinhas perdidas na terra do tio sam. Com graduação em estudos femininos, a moça em questão decreta enfaticamente o fim do descabaçamento no banco de trás do carro, segundo um especialista consultado.
Não que isso me cause estranheza, pois nos puteiros desse interior brasileiro isso é prática mais que comum e, vileza das vilezas, envolve crianças. O inusitado fica por conta do modus operandis e, digamos, vá lá, da idade da moça. Ainda há virgens com duas décadas de existência! Em Tehran... Ou será que a alma mais cândida ainda creia no hímem Californiano? O veículo usado foi nossa querida rede na qual me deito. Tempos globais.
Já o ariano não fez por menos: ao único lance dado a patroa foi alugada. Creio ser a consorte de nosso locatário uma baranga. Onde já se viu? Trocar a mulher por apenas uma caixa de cerveja? Acho, mesmo considerando que seja uma mocréa mor, que valeria no mínimo cinco caixas. Porra, o cara tá sacaneando o mercado. Eu, por exemplo, só empresto a patroa por no mínimo cem caixas. E olha que a véia já não ostenta a glória do passado. Apenas uma caixa? é demais... além de depreciar o produto caseiro a cerveja tá pela hora da morte. Há casos em que o sujeito até paga umas brahminhas pra você levar a madame. Nesses casos não aconselho. Geralmente você está negociando uma bomba armada e com efeito retardado.
Nosso renomado mestre, Nelson Rodrigues, nos brindou em 1978 com uma versão familiar e cristã do empréstimo sexual. Nessa tragédia carioca de um ato com fortes ares míticos, já o título nos remete ao simbólico mundo da tentação, duas irmãs, Guida e Lígia, são cúmplices em uma deliberada desobediência ao mandamento que nos rouba o paraíso da inocência. Ao comer a maçã, Lígia toma consciência da vida e da morte. "O que senti foi tudo – a vida e a morte. Agora posso viver e posso morrer". Nota isto: a fraude na qual acreditamos e é chamada de relacionamentos humanos, não é uma tragédia? E se se encontra, seja apemas uma única criatura que não compactue com isso, não é o suficiente para que se estabeleça a tragédia? Vejo que não acreditas nisso. Tá bom, deixo por menos, um drama.
É como uma estranha sensação de ansiedade indefinida e é isso que incomoda, não a sensação. Simplesmente o fato de você ser incapaz de determinar com exatidão o motivo de sua pertubação. É, também, a percepção que se instaura ao romper com tudo que o liga ao mundo e entrar em um novo caminho, desconhecido, sempre solitário, com muitas expectativas e poucas esperanças. A queda cristã é apenas um engano absurdo, aliás, a cultura cristã é um acúmulo de absurdos.
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