terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Turista

Creio que a maioria das pessoas acha que viajar é muito bom. Chegar pela primeira vez em um lugar desconhecido, não importando qual seja: um vilarejo, uma cidadezinha, uma praia, um arraial – é muitas vezes coisas a serem descobertas, pessoas a serem conhecidas. É como voltar para o antigamente, quando o olhar curioso de uma criança perscrutava longe. Feliz o viajante que, depois um longo caminho, mirando paisagens tilintando de azul, notando a mudança da vegetação, vê por fim as primeiras cores do destino.

Mas diversa é a sorte, outro é o destino do cronista se atrevendo a pintar um quadro que lhe é estranho, ousando expor, com sua pena pesada e impiedosa, em alto e nítido relevo sua inaptidão para com as coisas escritas. "Portanto, meu distinto leitor, portanto, minha encantadora leitora", usando um dos mestres, não esperem mais que o mesmo de sempre.

Mas voltemos ao assunto. Há um turista extremamente incomum, diria até patético e o defini como caramujo. Geralmente não larga seus pertences. Anda com duas mochilas imensas pra lá e pra cá, além de bolsas e artefatos mais. Outro fato curioso é que sempre está em bando. Nunca menos que quatro. O que o torna perigoso para brincadeiras irônicas, sobretudo piadas cujos patrícios são personagens principais. Demonstram uma antipatia ímpar, sobretudo os da capital. Os do interior são mais afáveis e costumam interagir com os nativos e demais turistas. Grandes são as sombras humanas.

Há turista de diversas estirpes. Não sei exatamente à qual pertenço, mas tenho a ligeira impressão que não me encaixo em nenhuma categoria. Não me tome apressadamente como presunçoso. Apenas me situo na diminuta porção dos reservados, mesmo que minha brancura torne isso quase que impossível. Recentemente, ao viajar por terras baianas, me vi centro das atenções e achei estranho. De meus setenta e alguns anos não sou o sonho de consumo das mulheres e muito menos das ninfas que flutuam graciosamente. Deu-se que certa manhã, a vi...

E o final de página atinge o poupadordeporra, que interrompe sua narrativa. Pois como é do conhecimento do distinto leitor, o cara se recusa a escrever mais de uma página. Ele realmente é parcimonioso.

Nenhum comentário: