Havia já tempo que ela tinha ido embora. Assim, de inopino, rápido como um guepardo. O motivo pouco se me fazia.Lembro vagamente de como andava cansado daquela vidinha monótona, sem perspectivas, sossegada em demasia e sustentada na putaria. Chega uma hora em que me canso com tanta tranqüilidade, com trema, e tudo que quero é um rebuliço. Acho que foi o enredo final usado. Na verdade, foi um argumento desenvolvido com habilidade e denodo. Deliberadamente forjei uma desculpa para não ter que dizer a real. Eu estava sendo enterrado vivo junto dela. Já não produzia nada, ficava o dia inteiro olhando para o rabo daquela gostosa. Sim, devo confessar: era muito boa. Creio até que foram seus dotes sexuais que me seguraram durante três anos. De fato, era uma foda muito gostosa.
O tamanho de sua medíocridade era proporcional à bunda. A cada mostra dos dentes alvos disparates eram proferidos. Opiniões cheias de clichê, certezas repletas de cegueira, filosofia de quinta, sexta mão, enfim, uma representante típica de uma classe média desprezível e cheia de si. Mas a bunda, essa era esplendorosa. Devo dizer que a putinha não se fazia de rogada e gostava muito de trepar. Encanto dos encantos. Isso fazia com que eu ficasse o dia inteiro em casa, só labutando, sem pensar em mais nada além de labutar. O sexo ocupava completamente minhas cabeças. Cheguei a comprar o Kama Sutra e acabei por descobrir minha incapacidade para malabarista.
Evidentemente isso causou uma crise sem precedentes na economia do distinto que vos escreve. Essa bolha de hoje é fichinha perto da penúria em que fiquei. Acho que isso contribuiu e muito para sua partida. Depois que ela se foi caiu a ficha e percebi que teria uma luta grande para me recompor. Começei disparando desculpas para todos recados não atendidos, coisa que me ocupou por vários dias. Alguns ficaram ofendidos e aí eu me esmerava na vaselinagem. Foi um custo, mas arrumei alguns trabalhos e pude limpar a casa. Fico pensando se não estou velho demais para me dar a esses luxos de burguês folgado e seguro de si.
Eis que agora me surge a peça. Espalhafatosamente vestida, como sempre foi. A única mudança ficou para as etiquetas, bem mais dispendiosas que as de outrora. Mas sempre brega. Efusivamente veio em minha direção com a intimidade dos amantes. Não tardou muito para que patrocinador de tudo aquilo chegasse e me fosse apresentado.
- Ah, então é você...
Disse o sujeito baixo, de cavanhaque cuidadosamente circulado e com a caracteristica enfatuação da classe superior. Obviamente meu retrato havia sido pintado com grossas tintas. Agastei-me ligeiramente com essa promiscuidade, esse estar íntimo de uma relação que eu ignorava por completo. Minha sorte é que eu estava já na metade da terceira garrafa de um bom cabernet sauvignon, encorpado, seco e com um sabor marcante, como eu gosto. A vaporosidade tomava conta de minha mente e nesses momentos me torno o sujeito mais simpático do mundo. Ao contrário do autor que sucumbe ao terceiro copo de cerveja. Mas isso é outro assunto. "Sou eu mesmo", respondi com um baita de um sorriso no rosto, o que me franqueou uma conversa amena durante toda a noite. Como que pressentindo o devir, achei que aquilo não iria dar certo. Muita efusividade em um triângulo estranho. Isso fica para depois...
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