quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Olhos de Lince

Morreu depois de cem anos um autor que foi fundamental em minha visão de mundo. Minha Vó quase alcançou seu feito, mas assim como você, me deixou lembranças e palavras doces. Foi-se o corpo Lévi-Strauss. Difícil defini-lo. Antropólogo? Filosofo? O que seria o esmiuçador da cultura humana? Algo indefinível como uma canção reverberando no ar. Não quero lembrar do acadêmico, recordo apenas do homem sensível aos outros, ao diferente humano. Compreensão é uma coisa que está faltando ao ser pós moderno. Nesse tempo difuso o próprio umbigo passou a ser referência de tudo. Também pudera. Com tantos compromissos já nos esquecemos dos familiares, dos amigos. O que dirá do desconhecido que passa por mim olhando o chão, como se eu fosse um alienígena e o pior é que nada fazemos para destinar um pouquinho só de atenção a quem quer que seja.

Não enxergar meu vizinho se tornou a própria visão. Eis que sua grande lição perde força no torvelinho de tempos imprecisos, indefinível em seu aspecto torpe, vil, não no sentido da impossibilidade de se estabelecer parâmetros para coisas tão vastas como é sua obra. Não tenho a intenção de tecer loas ao cosmopolita que foi você. Bélgica, França, São Paulo, Goiás são paisagens insuficientes diante do vasto mundo, como dizia certo poeta mineiro. Um século! Simbologia simpática das ironias históricas. Tanto ao seu gosto se crava um símbolo em sua vida. Afinal, trata-se de uma existência longa, de olhos que presenciaram mudanças substanciais, de tantas e tantas mudanças.

Sendo assim, vamos dando por terminada essas exéquias simplórias, sem o talento verdejante de sua escrita. Meus olhos míopes jamais seriam os de um lince e sou um péssimo jogador de xadrez. Minhas primeiras jogadas, da mesma maneira que as últimas são pobres de raciocínio e toscas em sua estrutura.

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