Graciosa leitora, tanto quanto Riobaldo, ao assuntar e mirar o sertão, também eu, da mesma maneira, ao vislumbrar o cerrado, me vejo induzido a narrar o acontecido. Necessário será dizer precisamente o teor da escrita, visto que você, minha amável amiga, já escutou bastante, desde o princípio, as supostas razões das garatujas aqui publicadas. Em várias outras oportunidades salguei o mesmo porco. Dei outra volta ao parafuso e, como sempre, me faltou a arte. Mal terminei a última crônica, em cuja feitura ri muito, me vi diante da total falta de assunto para a seguinte. Como você já pode ter percebido, escancarada por minha pobre escrita, freqüentemente, com trema, minha falta de criatividade se deixa notar, isso quando não assume ares de protagonista. Sendo você muito discreta não levantou a lebre e poupou-me do ridículo.
Seja qual for o tema, mesmo que dele já se tenha mil vezes falado, a narrativa deve proporcionar senão prazer, o deleite sublime de tudo que possa dar alegria. Diante disto, ainda que na maioria das vezes meus textículos não suscitem senão pena, tento expor o que não pode ser relatado. Um grande malogro anunciado. Sempre acreditei ser de bom alvitre narrar amenidades, uma dança trevisana, um livre novelar. Sempre tive a opinião de que escolher uma entre milhares de histórias que poderiam ser narradas era de uma arbitrariedade imensa. É pouco provável que eu tenha arrancado suspiros de minha belíssima leitora, É bastante verossímel que minha fábula não arranque senão queixumes. Pondo-se, contudo, de lado essas ruminações, digo que rir ainda é o melhor remédio.
Infinito e vasto é o reino da fantasia. Desse modo, escolhendo arbitrariamente a história, tento apresentar uma. Afirmo, portanto, que não passo de um ludibriador. Bem sei que sua generosidade irá se compadecer desse pobre escriba e irá lhe dar o perdão solicitado. A tenho como uma mulher de infinita bondade. Entre outros pecados, tenho o maior de todos: a presunção da escrita. E é a natureza dessa presunção que me leva a desistir de narrar o que ia em meu espírito, para contar coisa diversa. A isto me conduz a estupidez. Viajando pelo mundo, e comprzendo-me ora com este, ora com aquele lugar, supuz saber algo da alma humana. Tolice. Existiu, e ainda existe em mim, a petulância dos ignaros, dos tão tolos que chegam a crer com firmeza em si próprio.
Pondo-se, contudo, de lado essas ruminações, digo que rir ainda é o melhor remédio.
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