segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Leituras

Na crônica anterior, já lá se vai um bom tempo, rocei em um livro que é parte de mim, grudou feito baba de moça. Faço questão de assegurar que não há na temática nenhuma novidade e o calhamaço é difícil de ser transposto impunemente. Como já disse reiteradas vezes, não tenho a intenção de escrever sobre mim. Ao me auto referenciar e deixar a conhecer minhas leituras, antes de iniciar meu textículo, nada mais faço que suscitar dúvidas no espírito de meu par de leitores, que já sabe que não está em boas mãos. Quer dizer, se eu, em função de ser o moinho desse parafuso, sou a única pessoa, mesmo considerando não ser a mais indicada para tal tarefa, a manter o giro do parafuso, me é lícito cantar o que quer que seja.

A lenda usada remonta de priscas eras e sua origem se perde nos meandros irônicos da história. Alguns a dão como da baixa Idade Média, outros não ousam afirmar nada, o que é definitivamente meu caso, e tantos outros a dão como do período micênico. Aliás, arrisco a dizer que a ânsia da criação é movida por personagens como Urutú-Branco, Fausto, Adrian Leverkühn e uma míriade mais. Qual criador não deseja a obra perfeita? A musa irretocada, iluminada pelo belo? Seja lá isso o que for. Indubitavelmente, o artista corre atrás do que confere sentido ao mundo difuso da realidade, da parca rama de luz clareando caminhos. Forjando bronze, lascando pedra, amassando barro, esculpindo sons, tecendo bordados vai delineando seu louco imaginário.

As profundezas da alma... essas são impenetráveis aos olhos alheios. Então falo do miúdo, do comezinho diário de nosso labirinto humano. Permita-me ilustre leitor, que eu, um de seus admiradores mais humilde, chame sua atenção para um fato ao qual já me referi aqui. Dá-se que o ser que ama o belo e aprecia as grandes vozes "não tem orelhas para crônicas, nem outras cousas ínfimas". Como diria nosso sempre citado bruxo. O que me leva a constatar um grande esquecimento. Sequer uma única vez rocei nossa bruxa ucraniana. Fico em falta, devendo um sopro de vida em minha cidade sitiada. Mas, de toda forma, minha única leitora há de reconhecer que sou um servo fiel de Santa Clarice.

"Quando a gente lê por olhos estranhos, entende mal as cousas". É disto que falo: da segunda mão, a informação via terceiros, a leitura da leitura, o engravidar pelo ouvido. A construção enfadonha de um saber amassado pelo vício, pela vegetação rasteira. Sejamos justos. Nada mais faço que dar voltas em parafuso espanado, não há nada mais falho. É certo que assumo, confesso mesmo, minha falta de criatividade. Mas no meio destes senões, entendam bem, resta ainda um fato importante: o textículo saiu e ejaculou profusamente.

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