Os primeiros indícios de minha sandice surgiram no dia em que resolvi me tornar personagem. Uma confissão de Ralfo que nasce não da primeira morte, mas do enésimo parto. Em comum, já falado aqui tantas vezes, a busca do real na fantasia, pois de certa maneira a verdade não passa de uma quimera, assim como o real é condicionado pelo tangível. O diante de seus olhos nada mais é que a mísera conjectura. Eu sempre quis usar essa palavra. Achei! Mesmo sendo um vocábulo "enjuado".
Adianto o seguinte: a reforma ortográfica que chegou com o ano novo serve apenas para as editoras, não altera absolutamente nada na língua. Até mesmo o sumiço do antipático trema me incomoda. Já não posso mais ficar tranqüilo, terei que ser "trankilo", não obstante minha magreza. O hífem, sempre um grande problema, continua com suas idiossincrasias. E ainda: que fazer com a decantada iguaria Estadunidense? Seria um cachorro ardendo em febre? Contudo, como vou fazer para você cessar o movimento e não estabelecer um destino, um fim, um objetivo. E o fim dos acentos nos ditongos abertos em paroxítonas? Meu vôo perde a leveza da borboleta. Ao lhe arrancarem as asas se torna um "voo" cego, uma "ideia" sem juízo.
Perfeitamente natural que as reformas aconteçam. A língua muda constantemente e é preciso que a acompanhemos. Mas essa reforma é exatamente aquilo que não preciso: chá para paciente terminal, paliativo acadêmico reforçando interesses escusos. Afinal, temos problemas mais sérios na língua que meia dúzia de alterações, creio ser menor que 0,5%, forçando a compra de milhares de dicionários, gramáticas, livros didáticos e afins. Se posso não estou podendo, já que minha mísera conjectura , agora vou abusar da palavra, não respeita o fim. Colocar no limite da trave meu desejo? Pára. Não é para você minha querida leitora. Trata-se de uma pequena embaixadinha, um toque ligeiro na direção do nada, apenas um lance sem gol. Um malabarismo inútil.
Não que eu queira a desilusão, a imutabilidade da língua, mesmo porque seria de uma bobagem indescrítivel. Apenas observo a ganância de uma luta em busca do vazio, um horizonte perscrutando um coração tosco. Pára. Não, meu incrédulo leitor. Não se trata de obstaculizar, "eita palavra bunita", nada. Só, tão somente só, como dizia uma canção antiga, a descolorida sensação do nada. Admito: não sou guerrilheiro de Eldorado, tampouco abraço a cena ou a causa. Apenas isso: uma personagem sem saber se é autor, ou se sou um autor sem saber se é personagem, ou, ainda, se a narração não passa de mera autoria, ou o contrário, ou o que quer que seja. Ou mesmo se sei ao menos escrever... E ainda por cima me aparece mais uma reforma ortográfica inserida naquela velha e gasta frase: mudar para tudo ficar onde está. O limite ansiando por atores medíocres, falas ralas de uma emoção insípida. Eis aí o dilema humano.
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