quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Solo de Violoncelo

Depois de longo e tenebroso inverno, voltei. Fiquei até tentado a seguir os ditames da canção do “rei” e dizer que aqui é meu lugar. Coisa que não condiz com a realidade.

Na verdade, não sendo mais que uma miragem, só existo na mente corroída pelo álcool desse que se diz narrador. Existir na ficção de um outro fantasma demonstra apenas o desatino de se ter um pretenso lugar. Seria o mesmo que tecer um longo labirinto onde a saída seria mera ilusão.

Voltar de onde nunca se saiu. Eis o paradoxo supremo de uma falácia.

Sendo assim, só provoco a ausência, faço do trato um prato feito de trapo e desfio a ladainha das carpideiras. Lágrimas envolvendo a chuva, desfilando a falta, o que não há. Noto nesta retomada a parca criatividade, a coisa destituída de si, do outro, de mim. Olhares lançados ao acaso não resolvem a pouca idéia – com acento – do textículo.

Causar o abandono não é casual. É a confissão da inaptidão, da fúria inoperante de um artífice. Portanto, nada mais lógico que a narrativa saia, assim, meio chinfrim. Penso que juntamente com a falta de idéia, veio a mão fora de forma, sem a afinação perfeita para o solo de um violoncelo.

Mas o fato é que voltei. Com a mesma opacidade de sempre, a mesma tela descolorida, não pelo tempo, mas em função de uma mediocridade intensa, uma total carência de talento.

Insisto, persisto e crio mais uma inutilidade supostamente vestida de sentido. Poderia até dizer do malandro que conheci no final de semana. De sua lábia de um falso carioca. Pernambucano da gema dava aula de carioquês. O filho morou um ano no Rio e por isso ele fala meio acariocado. Disse-me o atoleimado.

Não o faço em respeito ao filho. Fica esse textículo mal ajambrado, sem costura nem alinhavo. Apenas a coluna torta do cerrado em dias de festa.

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