terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Caso de Polícia I

Em razão de um medo atroz e uma coragem enfurecida, matei os três e não me lembro de mais nada. Os olhos de um deles em minhas mãos me trouxeram à realidade e não pude crer no que via ao meu redor. O destino, contudo, reteve seus passos e no silêncio da noite ouvi bem longe as sirenes soarem. A dúvida: me mandava ou esperava e teria uma encheção de saco do caralho para explicar que focinho de porco não é tomada, que foi legítima defesa e essas baboseiras. Me mandei.

Mal dormi. Fiquei a noite inteira procurando notícias. Até que finalmente ela apareceu com os primeiros jornais impressos. Em um box pequeno, à esquerda, dava o acontecido e a evasão do suspeito. Me chamou a atenção a omissão do texto sobre o fato de um deles estar sem os olhos. Acho até que os canas usaram para o trafico e abafaram. Os caras eram rodados nas manhas da bandidagem. Ninguém daria falta dos meliantes. Mas isto não foi motivo para eu me apaziguar, muito pelo contrário. Algo me dizia que era a trama de minha ruína. O destino, contudo, reteve em suas mãos a sorte que eu carecia e o golpe passou longe.

É bem verdade nunca pude confiar em meus pressentimentos. Sempre se dava exatamente o contrário. Eu, de minha parte, receei por mim e confesso que fiquei confuso. Os meganhas podiam achar que era acerto de contas e vir atrás de mim. Passei a andar pelas ruas com a atenção redobrada, mesmo ela já sendo extremamente alerta. Só para lembrar meus tempos de escoteiro. Não podia ver uma viatura que já mudava meu rumo. Usava o fato de não dirigir para me misturar, estar sempre em aglomerados humanos para que a rota de fuga, em caso de estar sendo seguido, fosse do tipo questão múltipla escolha.

Mas os meses se passaram e nada mudou. O assunto, como era de se esperar, morreu e foi enterrado em alguma gaveta. Após dois anos, pensando eu ter esquecido, alguém toca o interfone e o porteiro me avisa que era a polícia e que queria falar comigo. Desnecessário dizer que estremeci nas bases. Um turbilhão de imagens passou em minha mente, tudo rodou e nem sei direito o que disse ao porteiro. Tremendo mais que vara verde, vermelho que nem pimentão, abri a porta para os homens da lei. Mas isso fica para a próxima. Fui.

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