sábado, 18 de julho de 2009

A Verdade

"A verdade é uma fêmea que só é bela quando nova"

(M. Gorki)

Lembro-me de haver dito, um dia, que a verdade era uma criança rejeitada. Naturalmente a epígrafe foi o mote para que eu, em minha santa inocência, me imaginasse um filósofo de alta monta com uma paráfrase tão sem vergonha. A citação em questão está no livro sobre os Artamonov, lido em minha adolescência, sendo retomado agora e que foi um dos últimos do escritor. Aliás, estou só relendo. Nos dois últimos anos não tenho feito outra coisa. É bem verdade que sempre deixo um espaço para alguma novidade. Mas vamos ao que importa, ou seja, nada.

O final dos anos setenta foi penoso para minha ânsia de liberdade. As patrulhas davam o ar de sua graça truculenta. Tanto de um lado como do outro. As de esquerdas tinham em Gorki um de seus interlocutores, embora eles nunca tivessem entendido o russo barbudo e seu grito de indignação e protesto. Por contraponto execravam Borges, Nelson e outros. Os de direita vociferavam seu discurso em longas viagens de pau de arara. E eu, que não tinha nada com isso, ia lendo Gorki, Babel, Nelson, Borges e tudo que caia em minha mão, sem olhar a origem ideológica.

Isso me valeu o olhar torto da esquerda empedernida e a bisbilhotagem dos serviços repressivos. Desnecessário dizer que fiquei mal com todos, não obstante minha militância pueril contra a dita dura. Arrumei brigas homéricas por defender o fascista Ezra Pound, tive dissabores terríveis por colocar Albert Camus no panteão dos grandes escritores, fui violentamente vilipendiado por confessar meu prazer em ler Martin Heidegger. Não! Era imperativo ler o realismo socialista. Só? Nunca! Desde sempre soube me posicionar segundo meu espírito.

A verdade é que uma fêmea é infinitamente mais bela ao nos mostrar a verdade de nossa ignorância. E isso... só o tempo.

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