quinta-feira, 16 de julho de 2009

A Igrejinha e o Galeno

Mesmo com atraso vou meter o bedelho na conversa. Um painel, ou dois, como queiram, embora eu acredite que o nó da questão esteja mesmo no painel da santa, divide o mundo religioso e plástico, sem ironia. Rolou na imprensa uma grande controvérsia causada pelos painéis do Galeno, as mais recentes criações do pintor, que tem admiradores e detratores, na Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, em um debate sobre religiosidade e morfologia que sua obra jamais suscitou. Cumpre esclarecer duas coisas: passei grande parte de minha vida naquelas adjacências e conheci o pintor por volta de 1979, tendo nos tornado amigos, distantes, mas amigos. Morando na 108 sul, estudando na Escola Classe da mesma quadra e na Escola Parque da 308, é natural que minha infância tenha tido o cheiro das velas queimando as asas das pombas. Depois de surrupiadas as bandeiras de Volpi, agora o obscurantismo quer dar um tiro final em pipas, carretéis e que tais.

Segundo a associação das senhoras, não tão velhas, o pundonor religioso não admite brincadeiras. Coisa que não vejo absolutamente. A liga dos bons costumes não dá trégua. Meu parco conhecimento de história talvez não me dê o direito de afirmar que a igreja cristã foi íntima das artes. Não por acaso temos um enorme acervo graças ao trabalho dessa instituição. Não obstante o domínio de almas e corpos. Toda nefasta e hipócrita manipulação das escrituras caminhou ao lado de uma arte refinada, sacramentada pelos desígnios dos clérigos. Será que podemos prescindir do afresco monumental de Michelangelo na Capela Sistina? O que não dizer especialmente da criação de adão? Onde um homem maduro aparece nu? Os tempos eram outros... Ou poderíamos dizer que seria a própria personificação da luxúria e viadagem reinante?

O pintor nacional Francisco Galeno deixa crescer seu sentimento lúdico e com um azul profundo, meio céu de Brasília, sacia a sede das paredes e não altera seu antigo e peculiar traço. Não lhe assenta a santa? Deve essa assumir forma diversa da escolhida pelo artista plástico? Em face destas indagações, eu, com minha santa fé atéia – com acento – aceno com um adeus para esse textículo tão mal ajambrado. Contudo, mais uma palavrinha se faz necessária. Foi atrás do chapéu de freira que conheci os primeiros encantos das moças e desculpe-me, minha ciosa leitora e meu dedicado leitor, o tom confessional.


 

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