terça-feira, 18 de agosto de 2009

Libório II

Graciosamente o dono do espaço cedeu-me mais algumas linhas para eu contar minha derrocada. Sem querer ser cabotino, já o sendo, me vejo na obrigação de falar um pouco sobre essa pessoa chamada Libório. Embora eu já tenha adiantado alguma coisa, não falei do essencial. Cresci entre mulheres. Tias e primas me rodeavam. Apenas meu irmão como companheiro. Daí que passei a compreender, embora sem o apreender, cada mínimo gesto das fêmeas, cada olhar furtivo, cada desejo escondido em cada suspiro enfastiado.

Isso me valeu muito em minhas caças. Sim! Era assim que me sentia ao abater mais um belo exemplar feminino, um verdadeiro Hemingway. Eu, Libório, era, de fato, um galã muito feliz. Possuía cabedal de longa monta e dele fazia uso indiscriminado em minhas mentiras elegantes. Bem sei de como eu era querido pelas moças, que tão bem eu sabia cativar. Agia sempre em um plano medíocre, de vaidade e pura ternura por tudo quanto se relacionasse ao sexo oposto. Ternura esta na mesma medida de meu desprezo, pois tudo que amo me é desprezível.

Quando a vi, no mezanino da rodoviária, como narrei na primeira na primeira vez, senti bem que minha vida sofreria um destes danos que nada pode reparar. O fato é que me casei com a moça e me desfiz em mesuras no único intuito de esconder o que ia em meu íntimo. Meu grande e único erro. Durante todo tempo de nossa união, presumi estar a salvo do cântico da rodô. Ela não me fazia perguntas nem remexia em meu passado e, nos três anos que ficamos juntos, nunca a vi olhar para ninguém. Uma vez, cheia de rodeios, mencionou de passagem um de nossos inúmeros e inúteis convidados, já que os festejos eram a tônica, a sub dominante e a dominante de nossa cadência plagal.

Era setembro, quase um ano atrás. A seca estava braba, uma época dura para mim, mesmo tendo passado praticamente toda minha vida no cerrado; era o começo do fim, de certa maneira. Não foi nada fácil para mim, confesso. Mas o canto da sereia tomou conta do meu espírito e retornei ao mezanino. Mas isso, caso haja outra oportunidade, fica para depois.

Nenhum comentário: