segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Pateta

Acho que estou ficando velho. Vezes me pego naquela saudade do antanho, tão grande aos meus olhos infantis e tão pequena à minha vista míope. Fico pensando se não estou no time dos nostálgicos, daqueles que sonham com o passado de forma obsessiva. As retinas fixaram o tênis conga, cujo chulé era terrível, a vila sésamo, o sítio do pica-pau, o Emerson Fittipaldi, os noventa milhões em ação, que no meu modo de entender estavam mais parados que criadouro de mosquito da dengue. A memória viu o surgimento da televisão que precisava esquentar para "pegar", a consciência aflorou ao ver carros queimando de rodas para o ar, ao mirar fardas iradas perseguindo moscas indóceis e, finalmente, tomou juízo de sua careca, já no final da adolescência.

Não estou dizendo que estou saudoso... Brasília era uma fazenda sem porteira, sem arames e se respirava o ar pesado das casernas. Ficaram gravados para sempre o descampado destes horizontes, a largura das pistas, os belíssimos crepúsculos, a enorme melancolia das paisagens, como diria certo poeta recifense a propósito de Belo Horizonte. Sexta-feira era dia de vasculhar a cidade, sair por aí procurando festas pelas quadras. Mais tarde fui saber que era dia de fechar a Rua do Beirute. A truculência mais uma vez invadia a avenida e saia distribuindo saraivadas a esmo.

Sair atrás de uma festinha era o máximo. Nessa época não tinha interfone, muito menos vigias e as portarias viviam abertas. Era só ver umas luzes diferentes que já subíamos.

- Olha, é no quarto andar, na entrada do meio. Dizia um.

- Que nada! É na segunda portaria. Olha só as luzes, naturalmente estão na sala e, portanto, é a segunda entrada.

Lá íamos, sem nos importar em sermos mal recebidos, coisa que raramente acontecia. Foi em uma dessas festinhas de pré-adolescente que conheci aquela que eu poderia chamar de primeira namorada. Não obstante eu já ser meio escolado na putaria. Minha prima cuidou disso. Com dez anos já tinha o cabresto estourado. As punhetinhas que a safada me fazia eram indescritíveis. Acho que hoje ela seria processada por pedofilia. Ela nem sabe o bem que me fez. O pepino entortou desde cedo e é um de meus grandes companheiros até hoje. Graças ao chegado consegui mulheres que não me dariam a mínima em função de minha beleza. Cumpre dizer que sempre fui mais feio que mudança de pobre, mesmo no auge da adolescência.

Magro, tipo tuberculoso, careca, olhos embaçados, barriga sempre proeminente, mas senhor de um grande e robusto companheiro. Ágil nas curvas, pouco desgaste durante a viagem, profundo conhecedor dos caminhos e com certo ar abobalhado. Acho que isso inspirava confiança. Sabe como é... os patetas sempre são ignorados fora de sua função.

Isso ficou grande demais, melhor dar por terminada. Assim mesmo, repentinamente, contra todas regras da boa escrita. Fui.

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