segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Rabiscos Podres

Um sentimento estranho, incompreensível para mim mesmo, se apodera de meu amplo deserto. Com um aspecto sombrio e abandonado à própria sorte aduba minha amarga solidão, povoa de sons ásperos meu tumulto silencioso. Um violino desafinado sola sua pena cinzenta, seu teclado obscuro e sua tela pouco simpática aos desígnios de uma escrita com abundância de pormenores. Meticulosamente anotado, o textículo engendra problemas complexos. Só mesmo a mesa de um bar, onde resolvemos uma chusma de problemas, para enriquecer o discurso, tornar a fala fluída, florir o riso. Mas aqui não é o bar do pingüim e traço um compasso composto, torto como a quimera do poeta mineiro.

Longe, na lonjura inalcançável, bordo um desenho distinto, feito de traços toscos e tinta negra. Na penúria do isolamento componho um grito mudo, uma paixão violenta e mais uma ratazana é parida. O pútrido aroma de miasmas embala a seresta, acalanta o amor feito com restos de fezes. Note bem, meu desocupado leitor, a dificuldade para se achar um sinônimo para a palavra que norteia essa narrativa. E qual seria o rumo senão esse? Apenas roçar a roça, capinar o mato e plantar a semente da loucura. Semear a estranheza de um sentimento esquisito, eis ao que se propõem esses rabiscos podres.

Vamos finalizar logo esse textículo, pois não me sinto no direito de lhe impingir tantos destinos. Posto isto, lamentando ter despendido seu tempo e os seus recursos intelectuais em questões menores, elaboro mentalmente um projeto de final, que, mais uma vez, se mostra de forma pouco nítida, com nenhuma precisão e uma lógica de alienado. Assim, portanto, penso comigo mesmo, dou as questões por encerradas.

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