sexta-feira, 29 de maio de 2009

Raparigas de Vigário

Tendo tido conhecimento das calúnias e das injúrias que seriam assacadas pelo Belarmino contra a nobre e valorosa esquadra tricolor, Amadeu mandou empastelar aquele folhetim marrom de merda. O Godofredo, delegado da localidade, logo que soube dos acontecimentos, foi meter a colher no angu de caroço – sem hífem. Na confa que se formou na sossegada Aperibé, o que é um pleonasmo, pois o nome já diz tudo, os motes principais do momento eram o jogo do time local com o rubro negro da cidade vizinha, se não me engano São Fidélis, e o atentado ao jornal. O vilarejo com pouco mais de nove mil habitantes no noroeste fluminense, estava eufórico com a subida do time local para a segunda divisão do estadual e andava acompanhando com fúria e denodo todos assuntos relacionados ao esporte bretão. E foi para o sobrinho do Belarmino que sobrou.

Godofredo, torcedor fanático da urubuzada, assim como Belarmino, tinha lá suas simpatias com o adversário, afinal as cores eram as mesmas. Era, por assim dizer, filhote do time da capital e além de tudo são nossos vizinhos, costumava dizer. Coisa inadmissível para os nativos e sua rixa com os habitantes dos arredores. Onde já se viu, a autoridade policial maior puxar sardinha para o inimigo? De certa maneira a cidade se viu ao lado do Amadeu e legitimou o empastelamento. Cioso de sua missão de homem da lei, o comissário, mais sério que porca mijando, mandou averiguar os fatos e cocluiu que o sobrinho foi o mandante. Basta cumprir a lei dos homens, porque a liberdade de expressão é parte do estado de direito em que vivemos, disse o representante dos preceitos legais. Foi então preso o sobrinho.

O que chamou minha atenção não foi tanto a escaramuça em si, mas a notícia involuntária da cornucópia. Um dos chifrudos, o Belarmino, já sabia de sua sina. E o mais curioso era que a galha lhe caia bem. Verdade que ninguém precisaria de um exercício profundo de observação para notar o cervo sendo cevado. Já o outro guampudo, o Godofredo, fazia o tipo último a saber. Todo mundo sabia que o sobrinho andava fazendo visitas naquelas duas casas. Na noite do ocorrido a cidade estava apreensiva, já que os rios Pomba e Paraíba do Sul estavam indóceis e cheios. Ningém reparou na ausência do sobrinhos e de duas personagens das mais influentes. Estavam mais escondidos que rapariga de vigário. Mas isto fica para depois.

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